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Vida

Há dias maus e há dias muito maus. E depois há os outros, os verdadeiramente muito maus, a que, caso tivéssemos escolha, nos furtaríamos. São um verdadeiro murro no estômago, que nos atiram “borda fora”, que nos roubam o chão. Que fazem doer. Porém, há os dias bons e os dias muito bons. E depois há os dias excecionalmente esplêndidos. Verdadeiramente felizes. Energia positiva que alimenta o corpo e a alma. Que aquece o coração. Ambos, os dias bons e os dias maus, deixam marca, acentuada ou mais ténue. São memórias que carregamos, e que, a espaços, regressam, ainda que não as convoquemos. São memorandos, páginas de um livro que se vai avolumando de uma história cujo desfecho desconhecemos.
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Homem do mar

  Chega manhã bem cedo, numa rotina que cumpre religiosamente. Passos arrastados de quem carrega décadas de vida e as mazelas de uma infinidade de pequenos nadas e abalos de maior grandeza. Não estão à vista essas mazelas, fizeram morada por dentro, numa marca indelével que há de levar para a cova. Endireita as costas que teimam em curvar-se, fazendo-se ereto. Ergue os ombros e olha o mar, de frente, qual forcado enfrentando o touro na arena, em jeito de desafio. Conhece-o bem. Aprendeu a conhecê-lo antes sequer de se fazer homem. Sabe das suas manhas, dos seus caprichos, da sua imprevisibilidade. Respeita-o, porque o conhece. Sabe que pode ser traiçoeiro, ah como sabe. Não permite que as más memórias emerjam, antes as quer ocultas nesse negrume que habita em si, que lhe envolve o coração. Desconhece de que matéria é feito, tão pouco sabe que resiliência é a armadura de que se revestiu para sobreviver.

Nem sempre...

Nem sempre razão e coração casam, mas fazem alianças. Nem sempre o amor cura, mas faz verdadeiros milagres. Nem sempre um abraço atenua a dor, mas imprime energia. Nem sempre falar resolve, mas alivia. Nem sempre são firmes os meus passos, mas regem-se pela verticalidade.  Nem sempre são assertivas as minhas palavras, mas refletem a verdade de cada momento.  Nem sempre sou o que esperam de mim, mas o que posso ser para os outros.  Nem sempre dou tudo o que poderia, mas o que sou capaz de oferecer.

Serei Amor

  Serei morada Porto de abrigo Cais onde ancoras o barco Âncora no mar revolto   Serei casa Regaço que acolhe Abraço que conforta Lar das memórias mais doces   Serei refúgio Lugar seguro Tempo sem tempo Abrigo nas tempestades   Serei certeza nas horas dúbias Luz na escuridão Esperança no desespero Alegria no descontentamento   Serei confidente Guardiã de todos os teus segredos Fiel depositária das tuas partilhas Confessionário dos teus pecados   Serei música Silêncio se o desejares Frenesim na quietude Calma na agitação   Serei o que quiseres que seja Sempre e quando o queiras Serei para ti o que queria fosses para mim Serei AMOR

Falsa inocência

  Sou outra vez criança quando me permito a inocência que há muito perdi.  Quando, sem quaisquer preconceitos e expetativas, me predisponho a receber. A absorver e a aprender, captando a essência das coisas que hão de ser a amálgama que me susterá. Quando me deixo suplantar por essa avidez do que é novo e desconhecido. Quando me permito acreditar que é puro o sorriso que me oferecem e sinceras as palavras que me dirigem. Quando me deixo convencer de que é real a deferência que me dedicam. Quando ignoro que o caminho que me trouxe até aqui me ensinou muito do que preferia continuar a desconhecer. Quando me iludo e abraço uma realidade paralela. Continuarei a ser criança enquanto não enxergar a realidade que se mascara, sedutora, ao meu olhar, embalando-me na sua doce melodia.  

Tempo

Tenho memória de um tempo sem tempo. De tão distante, o futuro era a promessa do que a imaginação e a ambição ousassem sonhar. O tempo era uma linha a que não se vislumbrava o fim. Jamais se esgotava, havia sempre tempo. Tempo para viver, para experienciar, para errar, para recomeçar. Nunca era tarde, até o ser. O que haveria de ser ficou por cumprir e jaz no campo das hipóteses. O horizonte temporal deixa perceber onde termina e cada dia é um dia a menos para o que falta do resto da vida. Contraria-se o amargo de boca com uma alegria fingida e agarra-se, qual bóia de salvação, a falsa e tão propalada expectativa de que "nunca é tarde". Como se a vida nunca se esgotasse e houvesse sempre tempo. 

Silêncio

Quando o silêncio é tão estrondosamente ruidoso retumba no peito e agita a mente. Não se ouve, contudo, grita. É avassalador. Assume o poder das mais duras palavras, é eco de uma multidão. É poderoso, porque domina, torna refém. Não permite refúgios nem evasões. É inteiro, porquanto preenche, toma todas as dimensões. Mil vezes os gritos. Tal silêncio não traz serenidade nem acalma. Mata.