Porque insistes em continuar amarrada quando podes ser livre? Porque te contentas com o mediano quando podes obter a excelência? Porque têm que ser sempre os outros a acreditar em ti primeiro do que tu própria? Falta-te a determinação, a força, a coragem. Continuas a preferir o caminho mais fácil, mais cómodo, mais previsível. Tens receio de arriscar, deixas-te dominar pelo medo e continuas a sonhar. Se, se, se… Não é por aí, sabes muito bem que não é por aí que chegas lá. Se, se, se… Tudo não passa de mera ilusão, de castelos construídos na areia. O sonho comanda a vida, mas o mundo só pula e avança se empreenderes os projectos que desenhaste e partires em busca de novos mundos.
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunho...
Comentários
Enviar um comentário