Quem me conhece sabe que a rádio é a minha paixão e que mantenho a esperança de um dia voltar aos microfones. A rádio tem esse enorme poder de, pelo ouvido, transmitir sensações e emoções e agarrar o ouvinte. O relato de um jogo de futebol, em que a descrição de cada passe, e especialmente de cada jogada mais emotiva, faz vibrar o adepto fora do estádio, é um dos exemplos mais óbvios. E o que dizer das reportagens em que o som tem tanto ou mais poder que as palavras? Mais do que uma técnica saber usar o som é uma arte, mas saber usar as palavras também. Eu conheço um caso assim; um programa de rádio que tem essa particularidade de prender o ouvinte e de o transportar nessa viagem pelo mundo do imaginário. É, curiosamente, um programa sobre viagens que, embora não sendo produzido por nenhum jornalista, alcança esse desígnio de levar o ouvinte a percorrer sítios e lugares e a vivenciar as emoções dessa descoberta.
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunho...
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