não sei dizer porquê. o que me leva a vir aqui. tantas vezes que já lhes perdi a conta. parece até que o meu corpo tem vontade própria. quando dou por mim já cá estou. no estio, a sentir o sol quente na pele, o vento nos cabelos e o murmúrio do mar a embalar-me. na invernia, o corpo a resistir às agruras do tempo, ao vento forte, à chuva, por vezes impiedosa, como que a querer afugentar-me. mas fico. fico até me sentir em paz. chego até a exprimir em voz alta o que me vai no íntimo, como se a natureza fosse gente e pudesse ouvir-me ou até aconselhar-me, ainda que seja somente um monólogo. no fundo, sinto que sou ouvida e até compreendida. por isso regresso. regresso sempre.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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