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Mensagens

A mostrar mensagens de 2015

Não me roubem as memórias

Não me roubem as memórias. Tirem-me tudo menos as memórias. Que seria de mim sem elas? Uma vida sem passado, um livro com páginas em branco, um filme sem imagens. O vazio. A ausência total e completa de um percurso feito de risos e lágrimas, alegria e dor. Mais do que o registo das vivências, as memórias são a armadura que me sustém. Não me roubem as memórias. Sem elas nada sou.

O mar

Ouves o mar? Está triste, não sentes? Parece que chora, soluçando a sua mágoa. Às vezes está zangado, bate com violência nas rochas, como se descarregasse raiva acumulada, castigando quem ousar fazer-lhe frente. Muitas vezes está feliz. Sei-o quando o vejo sereno, sem ondas, rebolando com a areia em ternas brincadeiras. É de humores o mar. Tem dias.

Presa no passado

Não julgues que estou diferente. Não te deixes enganar pelas aparências. Só o tempo seguiu em frente. Arrastou-me com ele, é certo, como o espelho me lembra de cada vez que nos cruzamos, porém eu continuo lá. Nesse tempo que eu pensava ser nosso, mas que era, que é, afinal, só meu, porque é só que me encontro. 

Prometeste envelhecer a meu lado

Não consigo deixar de pensar que prometeste envelhecer a meu lado. De que valem as palavras se as proferimos levianamente, qual bolas de sabão sopradas ao vento? Não se deve prometer o que não sabemos ser capazes de cumprir, já devias saber. Mesmo assim prometeste. E eu acreditei que iria chegar ao Outono da vida contigo a meu lado. Mentiste-me, iludiste-me, enganaste-me. Odeio-te por isso. Onde estás tu quando os meus passos vacilam e as nuvens negras baixam sobre a minha cabeça, pesando-me sobre os ombros? Prometeste envelhecer a meu lado, lembras-te? Deixaste-me a percorrer sozinha esse caminho desenhado para ser trilhado a par. Resta-me o consolo de que não foi tua a escolha e deixo o sol entrar porque sei que és tu para me dar um abraço.

Tempestades da vida

E, então, quando pensas que tens tudo sob controlo, vem uma onda e arrasta-te, sem sequer te dar tempo para reagires. Já só te dás conta da tempestade quando derivas no alto mar, fustigado pela forte ondulação e sem vislumbrar qualquer porto de abrigo. De nada vale gritares porque não te farás ouvir. Contudo, gritas, gritas até estares esgotado. E eis que vês a luz, a luz que nunca deixou de estar presente, mas que não vias porque estavas cego pelo desespero. Consegues ver claro agora, as ondas amainaram e as águas são calmas. A tempestade passou. Venceste-a. Lembra-te, porém, que as tempestades surgem quando menos as esperas. 

Coragem de viver

Dá-me as tuas asas para eu voar, a tua coragem para ousar, a tua força para enfrentar obstáculos, a tua confiança para me superar. Tenho asas que não alcançam mais do que um voo rasteiro, a coragem para calculados passos, a força para tirar as pequenas pedras do caminho, a confiança que não passou da infância. É melhor caminhar em terreno plano do que trepar montanhas, mas nem sempre o trilho mais fácil é o que nos faz mais felizes. Da vida não se pretende que seja uma reta, mas um trajeto onde as curvas foram vencidas, as pontes atravessadas, os cumes alcançados. Só assim vale a pena viver.

Presos na teia

Foi fugaz, porém tão forte e intenso. Apanhou-nos de surpresa, enredou-nos na sua teia. Amarrou-nos em laços, prendendo-nos sem que disso déssemos conta. Lançou-nos num redemoinho, elevou-nos ao mais alto dos céus. Caminhamos sem sentir o chão, tocamos estrelas, agarramos a lua, beijamos o sol. Não o tivesse vivido e diria que foi um sonho. 

Nunca me chamaste Amor

Nunca me chamaste Amor. Dizem-me que quando queremos muito, por vezes, o nosso desejo transforma-se em realidade. Sei, contudo, que é ténue a fronteira que separa a realidade da ilusão. Nunca me chamaste Amor. Dizem-me que mais do que as palavras contam os gestos. Sei, porém, que o corpo pode falar uma linguagem diferente da do coração. Nunca me chamaste Amor. Dizem-me que não devemos querer regressar aos lugares onde fomos felizes. Sei, todavia, que as recordações confortam, mas não trazem de volta o passado. Nunca me chamaste Amor.            

Quando os olhos falam

É com o olhar que te falo quando preciso do teu abraço ou quando necessito estar só por sentir que dois são uma multidão. O meu olhar é o braille que aprendeste a ler sem precisares sentir o relevo nas pontas dos dedos. Sabes quando preciso do amigo ou do amante, quando ficar ou partir. De nada valem as palavras se não fores capaz de ler no meu olhar o que me vai no íntimo.

As cartas que nunca vais ler

Eis-me a escrever-te mais uma vez, mais uma carta que sei que nunca vais ler. Ficará guardada, algures, como todas as outras que te escrevi. São já tantas, tantas. Escrevo-as para ti, mas não para que as leias. Não sabes, mas começo as frases demasiadas vezes com a palavra NÃO. Saberias se as lesses. NÃO é sinónimo de negação. É sinal de afirmação. E quantas vezes um ato de coragem. É negação quando me recuso a ver as evidências. É afirmação quando enfrento a verdade. É coragem quando ouso dizer NÃO. Não sabes, mas vivo numa montanha russa, ora na adrenalina das alturas, ora na aflição da queda vertiginosa. As cartas que te escrevo são o diagnóstico dessa bipolaridade. Escrever-te esgota-me. Às vezes liberta-me. Não sabes, mas escrever-te é a forma de te manter vivo.

Nunca tive jeito com as palavras

Nunca tive jeito com as palavras. Caíam qual folhas secas no despontar do Outono quando me envolvias em teus braços e me transportavas para outra dimensão. Nunca tive jeito com as palavras. Sumiam-se de cada vez que desenhavas no abstracto um futuro de sonho e me fazias crer no impossível. Nunca tive jeito com as palavras. Ficavam estranguladas na garganta quando dizias que eu era o teu mundo e me fazias sentir a estrela mais brilhante do Universo.   Nunca tive jeito com as palavras. Não fui capaz de, através delas, fazer-me entender quando tentei justificar o injustificável. Não perdoaste o imperdoável e eu, sem jeito com as palavras, deixei o silêncio falar mais alto. Nunca tive jeito com as palavras. Não as encontrei quando precisei delas para dar respostas às tuas questões. Impuseste o ponto final. Nunca tive jeito com as palavras. Não achei que fosse importante dizê-las porque achava que me entendias sem que fosse necessário falar. Não aprendeste a