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A mostrar mensagens de 2012

Esperança

Sorriso largo, como portas escancaradas a desafiar quem passa a entrar. Olhar expressivo, registando cada movimento, qual câmara de vigilância captando imagens. Braço estendido, a mão aberta. De tão repetido, o gesto, por si só, já não prende a atenção de ninguém. Porém, o quadro, no seu todo, impressiona, confunde quem passa. Algo parece fora do lugar. Alguma coisa não combina. Talvez o sorriso. Ou o olhar. A mão estendida de quem pede não condiz com um rosto iluminado por um sorriso a transbordar esperança. 

No escuro

Procura sinais e não enxerga as evidências mesmo diante dos seus olhos. Não olha além da superfície, por isso não alcança as respostas. É como se uma espessa neblina formasse uma cortina que a impossibilita de ver. Vive como se o tempo lhe fugisse por entre os dedos, lamentando cada dia que passa sem encontrar o que anseia. Não lhe ocorre sequer que a felicidade pode estar à porta, à espera de ser convidada a fazer-lhe companhia.

Casa vazia

Caminha devagar, sem pressa de chegar ao destino. Não tem ninguém à sua espera, por isso tanto faz mais cedo como mais tarde. Aguarda-o uma casa vazia, onde outrora havia companhia. Hoje, resta apenas ele. As paredes agora despidas exibiam retratos de uma família que deixou de o ser. Uma história igual a tantas outras, que o destino se encarregou de escrever indiferente à vontade dos protagonistas. A agitação de uma cidade que se despede de mais um dia traz-lhe à memória os tempos em que ansiava pelo regresso a casa, para o aconchego do lar, em busca do merecido repouso, onde o aguardavam os mais doces sorrisos e os abraços mais reconfortantes. Caminha devagar, porque não há pressa agora. O destino pregou-lhe a mais injusta e traiçoeira de todas as rasteiras e, de uma só vez, levou-lhe todas as razões que o faziam sorrir.  

Palavras contidas

Mais tarde ou mais cedo há-de falar, desembrulhando as palavras que mantém cárceres da sua cobardia. Não alcançou ainda a patamar que lhe conferirá a segurança e a coragem para falar o que há muito traz abafado no peito. Às vezes é como se estivesse junto ao precipício, pronta a saltar, sem medos. Nessas alturas, chega até a achar ridículo tanto receio de se expor e acha-se capaz dos feitos mais audazes, ainda que em causa esteja só falar, dizer o que sente. São, porém, arrojos momentâneos, que se diluem tão rápido como o sol em dia de chuva. Ensaia incontáveis vezes formas e meios de o dizer, chega até a sentir a leveza espiritual que o desabafo, que não o foi, proporciona, mas é também efémera a sensação. Um dia, diz para si própria. Um dia não mais conseguirá calar as palavras que lhe queimam os lábios e travar o ímpeto de confessar o amor que despertou no seu coração.

Vento

Ouves o vento a soprar, desejoso de invadir cada porta e janela fechadas? Parece que anda perdido, sem norte, à procura de um lugar para se abrigar. Corre como louco, não se percebe para onde quer ir. Ora rebola pelo chão, atirando pelo ar as folhas amarelecidas de um Outono ainda a fazer-se anunciar, ora se eleva ao mais alto dos arranha-céus, desafiando a mais resistente das edificações. Brinca com os cabelos como a fazer pirraça, atrevido levanta saias e vestidos, assobiando a cada esquina. Provoca, desafia. Gosto do vento, sabes? Às vezes esmorece, mas, num abrir e fechar de olhos, revela toda a sua força. Impõe-se, faz-se respeitar. Acho que nesses dias também quer sacudir os corpos e as mentes amorfas.

De alma aberta

Reescreve o guião de uma história a que assistiu na vida real e na tela. Das promessas de amor eterno, da dedicação extrema à rotina que se instala, até à quase indiferença. Conhece de cor o final do filme, onde ela própria foi personagem. Julgava o seu coração adormecido, mas sentiu-o despertar qual flor a desabrochar sob o sol da Primavera. Ei-la de novo de alma aberta, numa alegria adolescente, pronta a desfrutar de fortes e intensas emoções. Com os pés no chão e a cabeça nas nuvens, ela entrega-se na esperança de um happy end.   

Despertar

Ouço vozes ao longe. Vêm em ondas, tornando-se cada vez mais claras ao ritmo do meu lento acordar. Dás-me a tua mão e eu agarro-a qual bóia de salvação, como se dela dependesse a minha sobrevivência. Dizes o meu nome baixinho, num sussurro soprado ao meu ouvido. Respondo com um sorriso. Desafias-me a ir ver o mar e arrastas-me até à varanda. Sumiram-se as vozes e nada mais se ouve que o barulho das ondas, num suave ondular, qual música que nos embala. Ignoramos deliberadamente o relógio, obrigando-o a dar-nos o tempo que nos tem faltado.

Problema de expressão

Gostaria de saber exprimir por palavras o que o meu coração sente, mas este problema de expressão que marca o meu ADN não mo permite. Ficam mudas as palavras na minha boca e olho-te na esperança de que saibas mais de mim do que julgo saber. Fico na expectativa de que possas adivinhar o que estou a pensar quando me sinto demasiado exposta a teus olhos. Acaso terás a capacidade de perceber que quero que fiques quando digo que está na hora de ires embora? E que é somente por medo de sofrer alguma desilusão que te dou a entender que não quero compromissos? Não te dás conta de que não é o frio que me arrepia a pele, mas o teu toque que desperta em mim sensações que me fazem perder o discernimento? Ou porque rio quando queres falar sério, boicotando qualquer conversa que me leve a dizer mais do que me sinto capaz? Será somente um problema de expressão? Ou será que tarde me dei conta de que já não sou dona da minha vontade?

Mulher coragem

O destino pregou-lhe uma partida e obrigou-a a tomar em mãos uma vida antes partilhada. Viu partir-se a corda que a mantinha ancorada a uma vida em tudo previsível, sentindo o chão fugir-lhe debaixo dos pés. Primeiro, a negação. Depois, a resignação. Secou as lágrimas e deixou para trás o passado, traçando um novo rumo para a sua vida. Descobriu forças que não sabia possuir. Orienta as suas energias para objectivos concretos, com a determinação de quem sabe como e para onde quer ir. Continua sozinha, mas o estar só não é ser só.  

Vazio

Ainda que a despedida tenha sido um “até já”, a sua ausência deixou um vazio gigantesco, como se faltasse uma peça na engrenagem, tornando pesados os dias, que se arrastam agora quanto dantes fugiam. Habituara-se à sua presença e às rotinas que deliciosamente partilhavam, tornando especiais as coisas e os momentos mais banais. Ela deu-lhe o seu coração e ele tomou-o com a maior das delicadezas, sabendo que não a poderia fazer sofrer, quando ela carregava ainda as marcas de um passado amargurado. Conquistou-o o entusiasmo com que ela encarava a vida, aproveitando cada dia como se fosse o último, e a audácia com que combatia as adversidades. Foi um “até já” mas o amanhã é ainda tão longínquo. 

Regresso

Já se faz longa a ausência. O regresso, em breve.

Teus olhos

Vejo nos teus olhos um coração grande, um porto de abrigo em dia de tempestade, uma força e coragem ímpares.  Através dos teus olhos vejo todo um mundo à espera de ser conquistado. Pelos teus olhos vejo mais longe e mais claro, dissipando a névoa que trai os meus. São meus os teus olhos quando me fazes olhar para o que antes era invisível. Vejo nos teus olhos os momentos felizes que viveste noutras vidas, antes de eu fazer parte da tua. Vejo a cor com que pintas os dias e dás brilho à vida dos que estão à tua volta. Vejo nos teus olhos um futuro de sonhos e de esperança. 

Pode a tua ausência doer tanto?

Pensar faz doer, reagir afigura-se como um esforço titânico, por isso deixo-me ficar, alheia ao mundo que me rodeia. Não tenho agora o discernimento de outrora, não alcanço já essa réstia de esperança que me mantinha à tona e deixo-me agora submergir por essa onda negativa, sem forças para resistir. Sei que lá fora há vida, mas os meus pés recusam-se a dar um só passo que seja. Sinto o meu corpo pesado, incapaz de erguer-se. Olho-me ao espelho e não reconheço a imagem que ele me devolve. O olhar sem brilho, as linhas do rosto sem qualquer expressão. O barulho da rua traz-me à realidade, arrancando-me do estado de letargia onde vegeto. Abre-se a porta e a luz do dia cega-me, impedindo-me de te ver. Dou conta que voltaste quando me sinto envolvida em teus braços. Pode a tua ausência doer tanto?

Lugares...

Há lugares que parecem ser só nossos e de mais ninguém, onde tudo nos é tão familiar e tão próximo que parece até que estamos em nossa casa. Há sítios que nos fazem tão bem que queremos não só ir mas ficar, onde saboreamos cada uma das pequenas coisas como se isso fosse um privilégio só nosso. Sem darmos conta criamos com esses locais uma espécie de relação afectiva, enredando-nos em laços que gostamos de manter bem apertados.

Asa Livre

Para assinalar o 2.º aniversário deste blog, Asa Livre, de Miguel Gameiro (ex-Pólo Norte). Linda. Como um pássaro que vai Quando uma porta se abre Não olhes para trás e vai depressa Como a noite quando cai Abraçando a cidade Deixa simplesmente que aconteça Abre as asas e vai Das tuas asas as minhas também Abre as asas, eu fico bem Como um barco que se afasta De uma das margens do rio Não há um só lado na vida Quando um beijo já basta Corpo quente em corpo frio Deixa que aconteça a despedida Abre as asas e vai Das tuas asas as minhas também Abre as asas , eu fico bem E que a despedida Seja só o recomeço Livre asa solta Voa alto, eu não te esqueço Abre as asas e vai Das tuas asas as minhas também Abre as asas , eu fico bem