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A mostrar mensagens de 2014

Perda

Deambulava ao acaso no frenesim da cidade. Caminhava sem saber para onde, sem ver com quem se cruzava, sem sentir a azáfama da urbe. Os seus pés arrastavam-se no chão, como se carregasse o mundo às costas. O olhar, esse era infinitamente triste, carregado de mágoa, espelhando a dor que sentia no mais íntimo do seu ser. Sem intenção alguma, entrou por uma porta ampla, de madeira envelhecida. Não sentiu, tão pouco se deixou envolver pela paz daquele lugar sagrado. Deu por si de joelhos, ante a imagem da Virgem. Fechou os olhos para de novo os abrir e fitar a imagem, já as lágrimas escorrendo, sem controlo algum, pelo rosto marcado pelas noites sem dormir. Desejou o mesmo destino que lhe roubara o seu amor, o seu amado filho, o seu único filho, uma vida ceifada na flor da idade, num acidente igual a tantos outros que sucedem todos os dias, a toda a hora, em qualquer parte do mundo, mutilando famílias que nunca superarão tão horrenda perda. Como era grande e tão insuportavelmente doloro

Memórias

Fomos o tanto que por ser demasiado não soubemos manter. Fomos o tudo que quisemos para sempre esquecendo que o eterno só o é enquanto dura. Fomos o real quando as nuvens eram o nosso chão. Fomos verdade na mentira de uma história por contar. Fomos estrela sem firmamento porque não cabíamos no infinito. Fomos certeza na dúvida do futuro. Fomos luz nas trevas. Fomos paz na guerra. Fomos silêncio no tumulto. Fomos água na terra árida. Fomos brasa no frio do Inverno. Fomos.

Recomeço

Podia ter-te pedido para ficares, mas não o fiz. Deixei que partisses e fiquei, presa ao chão, a ver-te ir embora. Ainda olhaste para trás, mas não deixei que visses a dor que me consumia. Fingi uma determinação que não sentia e aguentei firme e estoicamente até te perder de vista. Não me lembro quanto tempo ali fiquei nem o que fiz a seguir. Tenho, porém, a certeza de que foi o recomeço mais difícil que alguma vez tive que experimentar. Sei que fui eu que te empurrei para fora da minha vida. Sei que foi das decisões mais árduas e sofridas que alguma vez tive que tomar. Sei porque o fiz. Fá-lo-ia de novo, ainda que tivesse que passar pelo mesmo tormento. Porque ser feliz não é parecer feliz.

Dor

A dor está só adormecida. Não desapareceu. Não te abandona ainda que a tentes fintar fingindo uma felicidade que mais não é do que a couraça que vestes para tua defesa. Ela está lá. Tu sentes que te acompanha. Pesa-te. Dói. É a tua dor. És tu que a carregas.