Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2011

Na memória dos afectos

Na memória dos afectos encontro o conforto que aconchega a alma quando o vazio se instala e a solidão se faz presente. São preciosidades envoltas em deliciosa ternura que aquecem o coração. Na memória dos afectos encontro pedaços de vida onde o amor e a amizade deixaram a sua marca indelével tornando inesquecíveis esses instantes. Recordo pessoas que foram e serão sempre especiais pela luz e alegria que trouxeram à minha vida. Na memória dos afectos encontro o rumo que dá sentido à vida quando as incertezas se fazem maiores do que as garantias. É a jóia que aponta a esperança e assegura a lucidez e o discernimento para os passos que hão-de seguir-se. Na memória dos afectos encontro lugares onde fui feliz e onde regresso para me perder e encontrar nesse mundo de recordações. É o condimento que dá sabor aos dias e o rastilho que torna mais forte a chama da vida.

Livre

Admiram-lhe a garra e a força. A frontalidade, por vezes bruta, com que diz as coisas. O sorriso e o riso. Tudo nela é genuíno e verdadeiro, sem engodos ou artimanhas. Diz que a vida não é para ser levada a representar. É anti politicamente correcto e sempre se borrifou para as aparências. Sempre disse o que pensava, o que lhe valeu muitos dissabores e admiração noutras tantas vezes. Nunca deixou um abraço por dar e um amor por viver. É feliz, como só o podem ser as pessoas livres.

SobreViver

A data no calendário reaviva a lembrança do vendaval que devastou a sua vida e a reduziu a quase nada. Não foi totalmente inesperado, foi uma espera lenta que, ao invés de a preparar para o que haveria de vir, a tornou ainda mais frágil e fraca. As memórias desse período surgem envoltas numa espécie de névoa, tornando difusas as imagens desses dias em que viveu como se não fosse personagem da sua própria história, de tal modo estava entorpecida pela dor. Os dias que haveriam de seguir-se foram o acordar do pesadelo, tendo de enfrentar a dura realidade. A casa vazia, as recordações em todo o lado, só serviam para tornar ainda mais dolorosos os dias que começavam e terminavam sempre da mesma forma: tristes, longos e frios. Pensou que não sobreviveria ao longo e doloroso calvário. Egoisticamente, chegou a desejar partir também. Foi duro e penoso o caminho. Porém, resistiu, sobreviveu e reaprendeu a viver. Não estava, como nunca esteve, sozinha.

Velhos

Passeavam, calmamente, numa tarde solarenga, à beira rio. Passo lento, porque a idade assim o exige, ela de braço apoiado no dele. Falavam, sorriam. Quanta ternura! Desfrutavam do passeio, da magnífica paisagem, mas, sobretudo, da companhia um do outro. Tudo neles denunciava a intimidade de anos e anos de comunhão e partilha. Para quem passa, são apenas velhos. Quem olha de verdade, vê dois jovens na idade maior e percebe que dentro deles arde uma chama imensa, de um amor que será eterno até que um deles parta desta vida. Quem vê com olhos de ver, percebe que a idade não se mede pelos anos que constam no bilhete de identidade. Ele diz uma graça, ela ri-se com gosto. Para quem passa, são velhos tontos. Quem olha de verdade, percebe o significado da palavra jovialidade e encara com o sentimento de duas pessoas que gostam genuinamente uma da outra. São velhos, é certo. São velhos, porque contam muitos anos, só. A idade deu-lhes maturidade, sabedoria, experiência e lucidez para perceber qu

Tempo

Quisera, outrora, ter o tempo que agora lhe sobra. Quisera, nesses dias tão cheios, encontrar tempo para o que não lhe chegavam as horas do dia. Quisera parar o tempo para que o tempo não a arrastasse nesse compasso frenético. Quisera que os dias fossem dias mais tempo para ter tempo. Quisera ter tempo quando o tempo não lhe chegava. Ironicamente, hoje tem tempo, todo o tempo… Tem tempo para olhar para trás e perceber que o tempo passou sem lhe dar tempo para ter tempo! Tem tempo para olhar em frente e constatar que tem todo o tempo para fazer coisa nenhuma! Maldito tempo em que faltava tempo! Amaldiçoado tempo que sobra agora! Olha-se ao espelho e lá estão as marcas do tempo, expondo, sem pudor, os anos vividos, marcas vincadas de um tempo que foi sempre pouco quando tudo o mais era demasiado. Queria, agora, poder voltar atrás para arranjar tempo para tudo quanto ficou por viver...

Memórias

Não restam senão memórias, fragmentos de um passado comum. A vida escolheu separar-nos (ou será que fomos nós que a deixamos separar-nos?), colocando um ponto final na nossa história. Ficaram somente as recordações desse tempo que foi nosso e no qual partilhámos tantos momentos que eram, então, a razão do nosso viver. Trilhámos caminhos opostos sem que o que o sentimento que nutríamos um pelo outro fosse forte o suficiente para nos manter juntos. Desvaneceram-se as promessas e juras trocadas com a convicção de quem acredita ter o destino nas mãos. Permanece, ainda hoje, em mim uma sensação de vazio. Pergunto-me se és feliz e assalta-me uma quase angústia pensar que sim, não porque não te queira ver feliz, mas porque dói pensar que vives com outra a vida que planeámos para nós. Consola-me saber que fui, em tempos, a razão do teu viver. Conforta-me pensar que, apesar de ser agora passado, fui o presente da tua existência. Não me restam senão memórias.

Preso ao passado

Vives preso ao passado e, por isso, não consegues viver o presente nem perspectivar o futuro. Ficaste parado no tempo, num tempo em que foste feliz, em que tinhas sonhos. Hoje, não sonhas mais. Vives como que algemado, numa atitude de resignação, como se nada mais pudesses esperar da vida, numa postura de comiseração que não te leva a lado nenhum. Entregaste-te a uma vida vazia e fechaste-te ao mundo lá fora, alheio ao relógio do tempo. Porque és assim, afinal? Que acontecimento supremo te transformou na pessoa que és hoje? Um desgosto de amor? Um fracasso profissional? Ainda estás a tempo. Estás sempre a tempo de mudar, de inverter o sentido das coisas. Solta as amarras e lança-te à vida. Entrega-te sem medo de errar, de amar ou sofrer. Afinal, é isso que nos faz mais fortes. É erguer depois de uma queda, é enfrentar as adversidades com confiança e determinação e, sobretudo, acreditar, acreditar sempre.