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A mostrar mensagens de 2011

lugares

não sei dizer porquê. o que me leva a vir aqui. tantas vezes que já lhes perdi a conta. parece até que o meu corpo tem vontade própria. quando dou por mim já cá estou. no estio, a sentir o sol quente na pele, o vento nos cabelos e o murmúrio do mar a embalar-me. na invernia, o corpo a resistir às agruras do tempo, ao vento forte, à chuva, por vezes impiedosa, como que a querer afugentar-me. mas fico. fico até me sentir em paz. chego até a exprimir em voz alta o que me vai no íntimo, como se a natureza fosse gente e pudesse ouvir-me ou até aconselhar-me, ainda que seja somente um monólogo. no fundo, sinto que sou ouvida e até compreendida. por isso regresso. regresso sempre.

Alma

Ela chegou de mansinho como tantas outras vezes Contudo, desta vez veio envolvida de sedução e encanto Senti-o quando despertou em mim uma deliciosa sensação Envolveu-me e por ali ficamos, muito quietos, com receio de estragar a magia do momento Terão passado minutos ou horas, não sei Regressei à realidade quando me fez estremecer soprando-me ao ouvido que lhe pertencia Foi então que percebi que a noite tem alma Fotografia: João Octávio Meira Texto: Alda Viana Este post foi publicado em simultâneo em www.esposendeimagens.blogspot.com

De ontem e de hoje...

Dançam as sombras das árvores no chão Ecoam os risos das crianças no pátio da escola Latem os cães ao som do assobio do homem dos guarda-chuvas Ouve-se ao longe o pregão da peixeira Corre apressada a Maria nas lides diárias Os sinos da Igreja a marcarem o passo da aldeia Os foguetes a anunciarem a festa O cheiro do pão quente O mar imenso que enche o olhar O rio e os seus recantos cheios de encanto

A beleza das coisas simples

A simplicidade das coisas belas Uma noite quente, Outono dentro As águas do rio num suave ondular As embarcações solitárias a partilharem cumplicidades Além as luzes a alumiarem outras vidas A brisa que sopra levemente O silêncio que se ouve A paz que se respira A beleza das coisas simples Fotografia: João Octávio Meira Texto: Alda Viana E ste post foi publicado em simultâneo em www.esposendeimagens.blogspot.com

Mar...

Não saberia viver sem o mar. É para junto dele que vou quando preciso de me encontrar, de assentar os pés no chão e tomar decisões. É com ele que tenho vivido angústias e medos. É com ele que tenho celebrado vitórias e alegrias. Perto do mar renovo energias, regenero-me. Perto do mar sou mais eu. Fotografia: João Octávio Meira Texto: Alda Viana Este post foi publicado em simultâneo em www.esposendeimagens.blogspot.com

Desejo

Estás entranhado em mim Sinto-te em cada poro da minha pele Desejo-te a cada instante O meu corpo arde em chamas Quero-te em mim para saciar este desejo que me consome

Despedida

Não gosto de despedidas. Talvez por isso não tenha percebido, ou não tenha querido ver, que aquele encontro seria o último. O semblante carregado e o tom sério da tua voz pareceram-se apenas indícios de um dia que te teria corrido menos bem. Senti-te rígido quando te abracei, mas atribuí a frieza à temperatura pouco convidativa para um passeio à beira mar. Não consigo lembrar-me das palavras que disseste, por mais que esforce a memória. Penso que terei activado, instintivamente, um qualquer mecanismo de defesa, recusando-me a aceitar a tua vontade. Viraste-me as costas e partiste. Fiquei ali, na praia, sozinha, as ondas a banhar-me os pés, como que a despertar-me para a realidade. Foi o vento que me trouxe de volta e que me leva ao mesmo sítio, onde vou amiúde, na tentativa de enxotar os meus fantasmas.

Recordações

Assaltam-me sem aviso prévio, perseguem-me deixando-me encurralada sem refúgio. Dominam-me sem que possa oferecer resistência, fazem-me refém por espaços que chegam a parecer horas. Quando as julgo esquecidas eis que irrompem ainda mais inflamadas, queimando por dentro como sal na ferida. Não tenho domínio nem vontade, não sou dona do meu querer. Como domador que amansa a fera, assim eu queria amenizar a dor das recordações.

Silêncio

O silêncio não é só a ausência de ruído. É o efeito relaxante que nos envolve e proporciona paz interior. Gosto de ficar a ouvir o silêncio, deixá-lo invadir o meu espaço e instalar-se. É no silêncio que encontro respostas, que me consigo ouvir, que aprendo a escutar. Às vezes, o silêncio é gritante, provoca alvoroço e inquietude, desperta medos e dúvidas, fomenta interrogações. Outras vezes, é apaziguador, clarificador, traz serenidade. O silêncio é muito mais do que a inexistência de barulho. É calma, é paz. É nele que me refugio quando sinto o mundo a escapar-me das mãos.

Há-de sempre haver amanhã

Ainda que pareças estar num beco sem saída E que o fardo que carregas seja demasiado pesado Por mais sombrios que se te afigurem os dias E a tristeza te bata à porta Ainda que tenhas perdido a esperança E já não acredites em milagres Por mais que te digam que não E tu teimes em ouvir sim Ainda que tenhas que recomeçar a cada dia E travar batalhas difíceis Por mais escuros e sinuosos que sejam os caminhos E não possas voltar atrás Há-de sempre haver amanhã

Faz de conta

Faz de conta que a brisa que sentes no rosto é os meus lábios em suaves carícias Faz de conta que o cheiro a maresia é o perfume que aromatiza os dias duros e insípidos Faz de conta que as luzes da noite são o clarão que ilumina os caminhos escuros e sinuosos que trilhas Faz de conta que cada passo que dás é o encurtar da distância que nos separa Faz de conta que o silêncio que impera é o bálsamo que te embala num sono profundo Faz que conta que o agasalho que vestes é o meu abraço que te envolve e aquece Faz de conta que a beleza ante o teu olhar é o quadro que pedi a Deus para pintar para ti Fotografia: João Octávio Meira Texto: Alda Viana Este post foi publicado em simultâneo em www.esposendeimagens.blogspot.com

Desamor

Arrasto-me cansada das noites que não me trazem o descanso que o meu corpo precisa e a paz que a minha alma pede. As minhas pegadas ficam marcadas na areia, mas rapidamente hão-de desaparecer como se desvaneceu o sentimento que nos unia. Não quero crer que tudo não passou de uma ilusão e que o nós só existiu na minha imaginação. Não posso acreditar que só eu me dei acreditando ser recíproca a paixão. Vejo-te indiferente e pergunto o que fizeste à pessoa que me fez amar, que voou comigo entre cometas e estrelas e me fez acreditar ser imortal. Sinto que uma parte de mim morreu e que jamais voltarei a ter a capacidade de me dar por inteiro.

Querer

Não sei se sei, mas acredito saber que a vontade, por si só, não basta para alcançar o que pretendemos. O sonho jamais se transformará em realidade se agarrada ao desejo não estiver uma grande vontade de concretização. Querer é fundamental e é, sem sombra de dúvida, o primeiro passo para atingirmos os nossos objectivos, sejam eles quais forem. Mas importante mesmo é fazer as coisas acontecerem. Empreender é ousar, é definir objectivos, delinear estratégias e arriscar, com determinação, optimismo e muita vontade de vencer.

Segundas oportunidades

Gosto de pensar que há sempre segundas oportunidades. É como manter acesa uma chama que, enquanto arder, mantém viva a esperança. Às vezes cometemos erros. Outras vezes estivemos a um passo de alcançar o que pretendíamos. Esperar uma segunda oportunidade é, pois, legítimo. É manter a expectativa que nos alenta. É manter vivo o desejo que nos anima. Gosto de pensar que há segundas oportunidades. Afinal, ainda há tanto para fazer.

Dissipam-se os dias

Dissipam-se os dias qual contas do rosário desfiadas numa reza corrida como quem tem pressa de ver atendida a sua prece. Rodam implacavelmente os ponteiros do relógio transformando o presente em passado depressa demais. Repetem-se os dias, as rotinas, os gestos, hoje como ontem, quase sempre iguais. Pergunta-se ao tempo porque foge pedindo-lhe que volte para trás. Outrora longa, a estrada vai-se fazendo cada vez mais curta, sinal de que há cada vez menos caminho para percorrer. A todo o momento a viagem pode terminar, sem aviso prévio, e é sempre curta, por mais anos que tenham passado. Fica sempre algo por viver, por fazer, por dizer… A intensidade das coisas não se mede pelas palavras que são ditas, mas pela forma como são sentidas e vividas. Como expressar por palavras a dor de perder alguém, o nascimento de um filho? Como explicar a sensação de voar sem tirar os pés do chão, tocar as nuvens sem lhes pôr a mão? Dissipam-se os dias que hão-de dar lugar a outros, igualmente escassos e

Amar

Amar é estar preso sem se sentir preso.

Bola de fogo

Fim de tarde de um dia que foi tempestuoso. Apesar da calma aparente, sinto-me agitado. Fervilha em mim uma estranha inquietude. Confronto-me, inesperadamente, com uma força mágica. Não resisto ao apelo e parto… As palavras perdem o sentido. Deparo-me com a Natureza, bela, cândida e poderosa. Sinto o coração arrebatado por essa bola de fogo. O meu corpo fervilha intensamente. Deixo-me levar… A tempestade passou, ficou a arder em mim essa bola de fogo. Fotografia : João Octávio Meira Texto : João Octávio Meira e Alda Viana Este post foi publicado em simultâneo em www.esposendeimagens.blogspot.com

Sem inspiração

Só para dizer que ando desprovida de inspiração.

Partida para a vida

Partiste em busca da serenidade que o teu espírito pedia. Foste embora com o coração destroçado na esperança de o recuperares e trazeres de novo à vida. Foi a mais dura prova que tiveste de enfrentar. Provaste o sabor amargo das lágrimas a cada despertar, porque cada novo dia te obriga a recomeçar. Ainda recolhes os cacos da tua vida partida e perguntas-te se algum dia a terás de volta. Porém, é o oposto que te move, é uma nova vida que procuras, porque não fazia mais sentido continuares refém do que é agora passado. Voltaste definitivamente essa página da tua existência e inventaste um novo viver, na certeza de não mais regressares ao que já foi. De algum modo, é como se tivesses morrido e voltado à vida. Reforçaste as tuas defesas e sentes-te capaz de enfrentar e superar as maiores provações. Afinal, quem venceu a morte vence qualquer obstáculo.

Sei de um tempo...

Sei de um tempo em que a felicidade se construía com quase nada. Era um tempo em que existiam valores, se dizia por favor e obrigado e se cedia o lugar aos mais velhos. Era um tempo em que as pessoas se encontravam pelo prazer de estarem juntas e conversar e estavam disponíveis para ouvir e ajudar. Era um tempo em que as famílias se reuniam, partilhavam alegrias e se amparavam nos momentos menos bons. Era um tempo em que as crianças tinham tempo para brincar e, sobretudo, para ser crianças. Era um tempo em que as guloseimas eram verdadeiramente saboreadas. Era um tempo sem pressas, sem stress e depressões. Era um tempo em que, apesar de se ter tão pouco, se dava graças, porque o pouco era tanto.

Olhos nos olhos

Olhos nos olhos. Tanto para dizer. As palavras presas na garganta. O silêncio a pesar. O coração a bater apressado. A expectativa a crescer. A vontade de fugir. Os pés presos ao chão. Olhos nos olhos. As emoções num turbilhão. A agitação interior que se agiganta. O desassossego a aumentar. O arrepio que percorre o corpo. A boca seca. Os músculos rígidos. Olhos nos olhos. O beijo que demora. O abraço que tarda. O corpo a queimar. A entrega à espera de ser cumprida. Olhos nos olhos. Como se fosse a primeira vez.

Na memória dos afectos

Na memória dos afectos encontro o conforto que aconchega a alma quando o vazio se instala e a solidão se faz presente. São preciosidades envoltas em deliciosa ternura que aquecem o coração. Na memória dos afectos encontro pedaços de vida onde o amor e a amizade deixaram a sua marca indelével tornando inesquecíveis esses instantes. Recordo pessoas que foram e serão sempre especiais pela luz e alegria que trouxeram à minha vida. Na memória dos afectos encontro o rumo que dá sentido à vida quando as incertezas se fazem maiores do que as garantias. É a jóia que aponta a esperança e assegura a lucidez e o discernimento para os passos que hão-de seguir-se. Na memória dos afectos encontro lugares onde fui feliz e onde regresso para me perder e encontrar nesse mundo de recordações. É o condimento que dá sabor aos dias e o rastilho que torna mais forte a chama da vida.

Livre

Admiram-lhe a garra e a força. A frontalidade, por vezes bruta, com que diz as coisas. O sorriso e o riso. Tudo nela é genuíno e verdadeiro, sem engodos ou artimanhas. Diz que a vida não é para ser levada a representar. É anti politicamente correcto e sempre se borrifou para as aparências. Sempre disse o que pensava, o que lhe valeu muitos dissabores e admiração noutras tantas vezes. Nunca deixou um abraço por dar e um amor por viver. É feliz, como só o podem ser as pessoas livres.

SobreViver

A data no calendário reaviva a lembrança do vendaval que devastou a sua vida e a reduziu a quase nada. Não foi totalmente inesperado, foi uma espera lenta que, ao invés de a preparar para o que haveria de vir, a tornou ainda mais frágil e fraca. As memórias desse período surgem envoltas numa espécie de névoa, tornando difusas as imagens desses dias em que viveu como se não fosse personagem da sua própria história, de tal modo estava entorpecida pela dor. Os dias que haveriam de seguir-se foram o acordar do pesadelo, tendo de enfrentar a dura realidade. A casa vazia, as recordações em todo o lado, só serviam para tornar ainda mais dolorosos os dias que começavam e terminavam sempre da mesma forma: tristes, longos e frios. Pensou que não sobreviveria ao longo e doloroso calvário. Egoisticamente, chegou a desejar partir também. Foi duro e penoso o caminho. Porém, resistiu, sobreviveu e reaprendeu a viver. Não estava, como nunca esteve, sozinha.

Velhos

Passeavam, calmamente, numa tarde solarenga, à beira rio. Passo lento, porque a idade assim o exige, ela de braço apoiado no dele. Falavam, sorriam. Quanta ternura! Desfrutavam do passeio, da magnífica paisagem, mas, sobretudo, da companhia um do outro. Tudo neles denunciava a intimidade de anos e anos de comunhão e partilha. Para quem passa, são apenas velhos. Quem olha de verdade, vê dois jovens na idade maior e percebe que dentro deles arde uma chama imensa, de um amor que será eterno até que um deles parta desta vida. Quem vê com olhos de ver, percebe que a idade não se mede pelos anos que constam no bilhete de identidade. Ele diz uma graça, ela ri-se com gosto. Para quem passa, são velhos tontos. Quem olha de verdade, percebe o significado da palavra jovialidade e encara com o sentimento de duas pessoas que gostam genuinamente uma da outra. São velhos, é certo. São velhos, porque contam muitos anos, só. A idade deu-lhes maturidade, sabedoria, experiência e lucidez para perceber qu

Tempo

Quisera, outrora, ter o tempo que agora lhe sobra. Quisera, nesses dias tão cheios, encontrar tempo para o que não lhe chegavam as horas do dia. Quisera parar o tempo para que o tempo não a arrastasse nesse compasso frenético. Quisera que os dias fossem dias mais tempo para ter tempo. Quisera ter tempo quando o tempo não lhe chegava. Ironicamente, hoje tem tempo, todo o tempo… Tem tempo para olhar para trás e perceber que o tempo passou sem lhe dar tempo para ter tempo! Tem tempo para olhar em frente e constatar que tem todo o tempo para fazer coisa nenhuma! Maldito tempo em que faltava tempo! Amaldiçoado tempo que sobra agora! Olha-se ao espelho e lá estão as marcas do tempo, expondo, sem pudor, os anos vividos, marcas vincadas de um tempo que foi sempre pouco quando tudo o mais era demasiado. Queria, agora, poder voltar atrás para arranjar tempo para tudo quanto ficou por viver...

Memórias

Não restam senão memórias, fragmentos de um passado comum. A vida escolheu separar-nos (ou será que fomos nós que a deixamos separar-nos?), colocando um ponto final na nossa história. Ficaram somente as recordações desse tempo que foi nosso e no qual partilhámos tantos momentos que eram, então, a razão do nosso viver. Trilhámos caminhos opostos sem que o que o sentimento que nutríamos um pelo outro fosse forte o suficiente para nos manter juntos. Desvaneceram-se as promessas e juras trocadas com a convicção de quem acredita ter o destino nas mãos. Permanece, ainda hoje, em mim uma sensação de vazio. Pergunto-me se és feliz e assalta-me uma quase angústia pensar que sim, não porque não te queira ver feliz, mas porque dói pensar que vives com outra a vida que planeámos para nós. Consola-me saber que fui, em tempos, a razão do teu viver. Conforta-me pensar que, apesar de ser agora passado, fui o presente da tua existência. Não me restam senão memórias.

Preso ao passado

Vives preso ao passado e, por isso, não consegues viver o presente nem perspectivar o futuro. Ficaste parado no tempo, num tempo em que foste feliz, em que tinhas sonhos. Hoje, não sonhas mais. Vives como que algemado, numa atitude de resignação, como se nada mais pudesses esperar da vida, numa postura de comiseração que não te leva a lado nenhum. Entregaste-te a uma vida vazia e fechaste-te ao mundo lá fora, alheio ao relógio do tempo. Porque és assim, afinal? Que acontecimento supremo te transformou na pessoa que és hoje? Um desgosto de amor? Um fracasso profissional? Ainda estás a tempo. Estás sempre a tempo de mudar, de inverter o sentido das coisas. Solta as amarras e lança-te à vida. Entrega-te sem medo de errar, de amar ou sofrer. Afinal, é isso que nos faz mais fortes. É erguer depois de uma queda, é enfrentar as adversidades com confiança e determinação e, sobretudo, acreditar, acreditar sempre.

Dialogar em silêncio

Pode parecer contraditório, mas, por vezes, o diálogo faz-se de silêncio. Nem sempre as palavras são a fórmula para o entendimento. Quantas vezes dizemos tanto sem nada dizer! O silêncio pode ser profundamente esclarecedor, mais até do que uma longa conversa. É importante saber entender o silêncio e, mais ainda, saber ler o silêncio dos outros, porque nem só de palavras se faz a comunicação. É preciosa a relação em que nos fazemos entender sem nada dizer, quando o outro alcança o nosso pensamento. Ao longo da vida, vamos cruzando com pessoas com quem criamos essa empatia, essa espécie de telepatia que ultrapassa a superficialidade das relações. Eventualmente não valorizamos a excepcionalidade dessas afinidades, quiçá porque ainda somos daqueles que achamos que “é a falar que a gente se entende”.

Quero desenhar dias felizes

Quero desenhar dias felizes Inventar novas cores para o arco-íris Atirar salpicos de alegria Tingir de cor cada dia Quero desenhar dias felizes Pintar de encanto e magia a tela da vida Agitar corações e avivar emoções Fazer acontecer o amor Quero desenhar dias felizes Fazer do barulho silêncio Tornar as lágrimas sorrisos Transformar a guerra em paz Quero desenhar dias felizes Banir as nuvens negras Despertar o raiar o sol Inundar a terra de luz Quero desenhar dias felizes…

O teu abraço

Chego com um nó na garganta e não consigo articular palavra. Atiro-me para o teu colo em busca de aconchego e encontro o calor do teu conforto. Não questionas o porquê do meu olhar perdido, que sustém a custo as lágrimas que hás-de ver rolar mal me tomas nos teus braços. Assaltam-te inúmeras perguntas, mas remetes-te ao silêncio até que o meu choro, até então contido, irrompe e quebra esse mudo momento. Apertas-me como se me resgatasses de um naufrágio e sinto-me emergir das profundezas que me sugam. Como que por magia sinto a dor desvanecer-se, aliviando o peso que carregava sobre os ombros. Há-de chegar a altura de falar, mas, por ora, preciso somente o teu abraço.

Carta de amor

Porque não me escreves uma carta de amor? Acaso a ideia parecer-te-á disparatada? Partilharás do pensamento de que “todas as cartas de amor são ridículas” ou receias antes expor-te e desnudar a tua alma? Não temas, pois não são as palavras que te tornarão vulnerável aos meus olhos. Esqueces-te que te sei de cor. Conheço-te demasiado bem, talvez até melhor do que a mim própria. A cada gesto teu, a cada olhar, sou capaz de adivinhar o teu pensamento. Não precisas dizer uma única palavra para eu saber que só queres ficar aconchegado no meu colo, os meus dedos afagando o teu cabelo. Não precisas falar para eu perceber que tens necessidade de desabafares ou de simplesmente seres ouvido. E quando chegas nessa alegria mal disfarçada, quase infantil, também não precisas falar para eu ver que estás feliz ou que algo de bom iluminou o teu dia. Ainda que me digas, sem dizer, que sou importante para ti, sempre gostava que me escrevesses uma carta de amor.

Olha dentro dos meus olhos

Olha dentro dos meus olhos e lê a minha alma Ficarás surpreendido com o que encerro no mais íntimo do meu ser Verás tristeza, dor, ódio, amargura, raiva Encontrarás também alegria, afecto, carinho, amor, paz Deixa-te levar pela saudade e embalar pela melancolia Deixa-te abraçar pela cálida ternura do meu olhar e entrega-te ao desejo que queres ver adormecido Não te lembras acaso de tudo quanto vivemos juntos? Olha dentro dos meus olhos e deixa-te tocar

Tempestade

Qual barco à deriva no mar em dia de tempestade, assim me encontro neste vendaval de emoções, neste turbilhão de sentimentos sem norte. Como um náufrago busco terra firme, um porto seguro onde possa assumir o leme da minha vida, resguardando-me de ventos e marés. Mas nada pode a minha vontade contra essa força, incomensuravelmente maior e superior, que me traz subjugada e submissa, ainda que não resignada. Transformo o Não no imperativo da minha vida na expectativa de vencer uma batalha que sei perdida, mas não perecerei sem luta.