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Mensagens

A mostrar mensagens de 2016

Aroma

O aroma perpassou-lhe as narinas e despertou-lhe os sentidos. Como que sacudida de um sono tranquilo mergulhou numa espiral de recordações. As memórias, sempre elas, a arrastarem-na para um passado que ainda não conseguira deixar para trás. O olfacto convocou os demais sentidos e ela deixou-se levar. Esqueceu-se de onde estava e de tudo quanto a rodeava. Estava de novo no tempo e na história que quisera para sempre, pudesse ter mão no destino. Não foi a brisa que lhe arrepiou a pele. Foi a intensidade das recordações. Porque o Amor tem muitos aromas.

Raiva em estado puro

Que raiva é esta que me consome as entranhas, me tolda o discernimento e anula a razão? De que raio de amálgama é feita esta coisa que passou a viver em mim, que pensa por mim, fala por mim, age por mim? Como travar uma batalha se não sei quem é o inimigo, se não tenho armas, munições, nem tão pouco estratégia? São mudos os gritos que berro, de outro modo como poderias não me ouvir?

Resiliência

Como se cumprisse um guião o cinzento acompanha-a. Desde sempre. Umas vezes mais persistente, outras quase ausente, mas permanentemente presente. Nunca quis que a sua vida fosse um rascunho traçado a lápis de carvão, aspirou sempre a uma tela colorida, com traços bem marcados e definidos. Mas a vida é dada a caprichos e obriga a novos recomeços constantemente. Não permite que as cores brilhem por demasiado tempo e o pardacento volta a instalar-se sem deixar perceber por quanto tempo. Enquanto a resiliência durar está prometida uma guerra de cores.

Faltam-me pedaços

Faltam-me pedaços, não sou inteira. Qual crivo cravado de buracos, assim sou  eu.  A cada perda há um vazio que se abre, que não mais fecha, passe o tempo que passar. A cada desilusão fica exposta a ferida da dor, que não chega nunca a sarar. A cada fracasso agiganta-se esse fantasma da derrota ficando sempre à espreita. Faltam-me pedaços, a vida anda a roubar-me, continua a roubar-me. Tira-me pessoas, tira-me momentos, tira-me sorrisos, tira-me alegria, tira-me alento… Só é inteiro quem não se dá, quem não arrisca, quem não se atreve. Só é inteiro quem nunca amou.

Prece

Diz-me por onde ir porque já não enxergo o caminho. Sê o meu farol, indica-me a direção. Orienta-me por este tortuoso trajeto para que eu não tropece. Faltam-me as forças, mas, sobretudo, falta-me o ânimo. Sinto que me abandonaste entregue à minha própria sorte. Não tenho dado pela tua presença, preciso de um sinal. Mostra-me que estás comigo, porque ao olhar para trás só vejo as minhas pegadas. Não te peço que me carregues ao colo, mas que me ajudes a carregar a cruz, porque é demasiado pesada para mim.