Sorriso largo, como portas escancaradas a
desafiar quem passa a entrar. Olhar expressivo, registando cada movimento, qual
câmara de vigilância captando imagens. Braço estendido, a mão aberta. De tão
repetido, o gesto, por si só, já não prende a atenção de ninguém. Porém, o quadro, no seu todo, impressiona, confunde quem passa. Algo parece fora do lugar. Alguma
coisa não combina. Talvez o sorriso. Ou o olhar. A mão estendida de quem pede não
condiz com um rosto iluminado por um sorriso a transbordar esperança.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
Comentários
Enviar um comentário