Podia
ter-te pedido para ficares, mas não o fiz. Deixei que partisses e fiquei, presa
ao chão, a ver-te ir embora. Ainda olhaste para trás, mas não deixei que visses
a dor que me consumia. Fingi uma determinação que não sentia e aguentei firme e
estoicamente até te perder de vista. Não me lembro quanto tempo ali fiquei nem
o que fiz a seguir. Tenho, porém, a certeza de que foi o recomeço mais difícil
que alguma vez tive que experimentar. Sei que fui eu que te empurrei para fora
da minha vida. Sei que foi das decisões mais árduas e sofridas que alguma vez
tive que tomar. Sei porque o fiz. Fá-lo-ia de novo, ainda que tivesse que
passar pelo mesmo tormento. Porque ser feliz não é parecer feliz.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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