Deambulava
ao acaso no frenesim da cidade. Caminhava sem saber para onde, sem ver com quem
se cruzava, sem sentir a azáfama da urbe. Os seus pés arrastavam-se no chão,
como se carregasse o mundo às costas. O olhar, esse era infinitamente triste,
carregado de mágoa, espelhando a dor que sentia no mais íntimo do seu ser. Sem
intenção alguma, entrou por uma porta ampla, de madeira envelhecida. Não
sentiu, tão pouco se deixou envolver pela paz daquele lugar sagrado. Deu por si
de joelhos, ante a imagem da Virgem. Fechou os olhos para de novo os abrir e
fitar a imagem, já as lágrimas escorrendo, sem controlo algum, pelo rosto
marcado pelas noites sem dormir. Desejou o mesmo destino que lhe roubara o seu
amor, o seu amado filho, o seu único filho, uma vida ceifada na flor da idade,
num acidente igual a tantos outros que sucedem todos os dias, a toda a hora, em
qualquer parte do mundo, mutilando famílias que nunca superarão tão horrenda
perda. Como era grande e tão insuportavelmente dolorosa a dor que lhe oprimia o
peito! Fitava a imagem, um borrão entre o vale de lágrimas, sem sequer lhe
ocorrer que ela conhecia a sua dor, porque também ela a sentiu. Perdeu o seu
amado filho, o seu único filho. Tal como ela. Foi-se embora sem ver que a
Senhora chorou com ela.
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