E, então, quando pensas que tens tudo sob
controlo, vem uma onda e arrasta-te, sem sequer te dar tempo para reagires. Já
só te dás conta da tempestade quando derivas no alto mar, fustigado pela forte
ondulação e sem vislumbrar qualquer porto de abrigo. De nada vale gritares
porque não te farás ouvir. Contudo, gritas, gritas até estares esgotado. E eis
que vês a luz, a luz que nunca deixou de estar presente, mas que não vias
porque estavas cego pelo desespero. Consegues ver claro agora, as ondas
amainaram e as águas são calmas. A tempestade passou. Venceste-a. Lembra-te,
porém, que as tempestades surgem quando menos as esperas.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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