Não julgues
que estou diferente. Não te deixes enganar pelas aparências. Só o tempo seguiu
em frente. Arrastou-me com ele, é certo, como o espelho me lembra de cada vez
que nos cruzamos, porém eu continuo lá. Nesse tempo que eu pensava ser nosso,
mas que era, que é, afinal, só meu, porque é só que me encontro.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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