Que raiva é esta que me consome as entranhas, me tolda o discernimento e
anula a razão? De que raio de amálgama é feita esta coisa que passou a viver em
mim, que pensa por mim, fala por mim, age por mim? Como travar uma batalha se
não sei quem é o inimigo, se não tenho armas, munições, nem tão pouco estratégia?
São mudos os gritos que berro, de outro modo como poderias não me ouvir?
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
Comentários
Enviar um comentário