O aroma perpassou-lhe
as narinas e despertou-lhe os sentidos. Como que sacudida de um sono tranquilo mergulhou
numa espiral de recordações. As memórias, sempre elas, a arrastarem-na para um passado
que ainda não conseguira deixar para trás. O olfacto convocou os demais
sentidos e ela deixou-se levar. Esqueceu-se de onde estava e de tudo quanto a
rodeava. Estava de novo no tempo e na história que quisera para sempre, pudesse
ter mão no destino. Não foi a brisa que lhe arrepiou a pele. Foi a intensidade
das recordações. Porque o Amor tem muitos aromas.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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