Sentiu-o
chamar por si. Esquecida do tempo e do lugar foi ao seu encontro. Encontrou-o sereno,
pronto para a envolver e ouvir as suas confidências. Rendida, entregou-se sem
resistência e quaisquer reservas. Sempre assim fora. Uma relação que perdura no
tempo e que, ao invés de esmorecer, se torna cada vez mais forte. Ninguém mais lhe
proporciona o mesmo bem-estar nem a mesma alegria. A ele vai buscar energia
para combater as agruras da vida. Por vezes acha-se egoísta. Nem sempre dá na medida
em que recebe, mas não sabe ser de outra forma. Ele está lá sempre para ela,
seja para receber o seu sorriso ou beber as suas lágrimas. Ela chama-o de seu.
Ele, o Mar, não é de ninguém.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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