Erguida naquela encosta, impõe-se na paisagem. Uma pincelada de cor em dias cinzentos e um pedaço de céu em dias de sol. Em redor, a serra, densa, verdejante. Na vista desafogada, o mar imenso, revolto em dias de tempestade, nos outros um lago onde apetece mergulhar. Na casa azul há vida, ainda que vozes não se ouçam. Umas vezes risos, outras lágrimas, palavras sussurradas ou gritos, abraços sentidos ou frias despedidas. Na casa azul, tal como em todas as outras casas, a vida acontece, caem os dias no calendário, os meses, os dias, os anos. Sucedem-se gerações, vão-se os velhos, ficam os novos. E o mar sempre como testemunha, vigilante permanente.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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