Esteve
sempre iminente, durante todo o dia, mas foi ao início da noite que despoletou.
Persistente, com uma cadência cada vez mais intensa. Como que ansiosa depois de
uma longa espera. Ritmada como uma dança, sem abrandar um só instante. Os pingos
transformados num enorme véu cobrindo a imensidão. Os campos, sequiosos,
absorvendo cada gota. O estio fora longo e agreste, como há muito não se via.
Fora uma extensa e penosa espera. Por fim, ela chegara. Ávida do abraço por
demais ansiado.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
Comentários
Enviar um comentário