Um vazio incomensurável tomou conta de si. Por
momentos, o chão pareceu fugir-lhe dos pés, uma tontura quase o derrubou. Um silêncio
gritante ecoava na sua mente, não lhe permitindo sequer pensar. Intentou uma
passada, mas as pernas não lhe obedeceram. Tentou falar, todavia não conseguiu
articular palavra. Viu-se refletido no espelho e não reconheceu esse outro que
o mirava atordoado. Preso, amordaçado, completamente dominado pelo choque. A morte
batia-lhe à porta.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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