Chega manhã
bem cedo, numa rotina que cumpre religiosamente. Passos arrastados de quem
carrega décadas de vida e as mazelas de uma infinidade de pequenos nadas e abalos
de maior grandeza. Não estão à vista essas mazelas, fizeram morada por dentro, numa
marca indelével que há de levar para a cova. Endireita as costas que teimam em
curvar-se, fazendo-se ereto. Ergue os ombros e olha o mar, de frente, qual forcado
enfrentando o touro na arena, em jeito de desafio. Conhece-o bem. Aprendeu a conhecê-lo
antes sequer de se fazer homem. Sabe das suas manhas, dos seus caprichos, da
sua imprevisibilidade. Respeita-o, porque o conhece. Sabe que pode ser
traiçoeiro, ah como sabe. Não permite que as más memórias emerjam, antes as
quer ocultas nesse negrume que habita em si, que lhe envolve o coração. Desconhece
de que matéria é feito, tão pouco sabe que resiliência é a armadura de que se revestiu
para sobreviver.
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