Sais para a rua ao encontro de mais um dia, igual a tantos outros. Repetes as rotinas de sempre, que de tanto as repetires já te fatigam por antecipação. Hás-de regressar a casa ao fim do dia, à espera de outro dia, igualmente previsível, cada vez mais desgastada, como se fosses perdendo um pouco de ti a cada dia. Se te abstraísses dessa espécie de apatia em que vegetas, verias, porventura, os olhos que te miram com ternura e os gestos de simpatia de quem espera uma oportunidade para te fazer feliz.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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