Não gosto de despedidas. Talvez por isso não tenha percebido, ou não tenha querido ver, que aquele encontro seria o último. O semblante carregado e o tom sério da tua voz pareceram-se apenas indícios de um dia que te teria corrido menos bem. Senti-te rígido quando te abracei, mas atribuí a frieza à temperatura pouco convidativa para um passeio à beira mar. Não consigo lembrar-me das palavras que disseste, por mais que esforce a memória. Penso que terei activado, instintivamente, um qualquer mecanismo de defesa, recusando-me a aceitar a tua vontade. Viraste-me as costas e partiste. Fiquei ali, na praia, sozinha, as ondas a banhar-me os pés, como que a despertar-me para a realidade. Foi o vento que me trouxe de volta e que me leva ao mesmo sítio, onde vou amiúde, na tentativa de enxotar os meus fantasmas.
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer
Comentários
Enviar um comentário