Não gosto de despedidas. Talvez por isso não tenha percebido, ou não tenha querido ver, que aquele encontro seria o último. O semblante carregado e o tom sério da tua voz pareceram-se apenas indícios de um dia que te teria corrido menos bem. Senti-te rígido quando te abracei, mas atribuí a frieza à temperatura pouco convidativa para um passeio à beira mar. Não consigo lembrar-me das palavras que disseste, por mais que esforce a memória. Penso que terei activado, instintivamente, um qualquer mecanismo de defesa, recusando-me a aceitar a tua vontade. Viraste-me as costas e partiste. Fiquei ali, na praia, sozinha, as ondas a banhar-me os pés, como que a despertar-me para a realidade. Foi o vento que me trouxe de volta e que me leva ao mesmo sítio, onde vou amiúde, na tentativa de enxotar os meus fantasmas.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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