Não me
roubem as memórias. Tirem-me tudo menos as memórias. Que seria de mim sem elas?
Uma vida sem passado, um livro com páginas em branco, um filme sem imagens. O
vazio. A ausência total e completa de um percurso feito de risos e lágrimas,
alegria e dor. Mais do que o registo das vivências, as memórias são a armadura
que me sustém. Não me roubem as memórias. Sem elas nada sou.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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