Ouves o
mar? Está triste, não sentes? Parece que chora, soluçando a sua mágoa. Às vezes
está zangado, bate com violência nas rochas, como se descarregasse raiva
acumulada, castigando quem ousar fazer-lhe frente. Muitas vezes está feliz.
Sei-o quando o vejo sereno, sem ondas, rebolando com a areia em ternas
brincadeiras. É de humores o mar. Tem dias.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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