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Regresso ao passado



Regresso, amiúde, ao passado. Quando a ausência faz doer entrego-me aos pensamentos, mergulho na emoção de dias felizes e deixo-me envolver por doces recordações. Nessa espécie de viagem virtual (re)vivo esse tempo em que o futuro não era mais do que um horizonte longínquo.
Mas o tempo, esse supremo traidor, corre, pula e avança como se tivesse pressa de chegar a algum lado. Como quem derruba peças de um dominó, abrevia as horas, os dias, os anos, tornando cada vez mais extenso o caminho percorrido e cada vez mais diminuto o percurso a trilhar.
Não tinha a noção do finito. Fui esbarrando nessa incontornável realidade, ao longo do tempo. São já tantos os embates! As marcas ficam no coração e na alma. Regresso, por isso, muitas vezes ao passado. Para trazer ao presente quem se foi, para apaziguar a dor e a saudade.  


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  Vive agora num permanente estado de letargia. Tem consciência disso, mas vontade nenhuma de inverter a situação. É como se tivesse caminhado durante horas e não possua já forças para dar um só passo que seja. Cansaço. Será, afinal, esse o diagnóstico? Não o sabe, tampouco quer saber. Basta-lhe permanecer quieta, não colocar interrogações, ainda que num frémito de clarividência se questione. Estará ela a cair nas malhas dessa coisa a que chamam depressão? Não, seguramente que não, ainda que não consiga clarificar por que razão se mantém apática, indiferente ao que antes a trazia motivada. Sente-se como um balão que, de repente, se esvaziou. Está sem conteúdo, vazia. Pouco lhe importa se é noite ou se é dia. Não se quer obrigar a pensar, a reagir ou sequer a pedir ajuda. Só quer ficar, porque não vê vantagens em ir.

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