Chamas-me tua e, todavia, sabes que não te pertenço. Pensei que já tinhas percebido que ninguém é de ninguém, mas continuas a querer fazer valer a tua verdade. A verdade, sou eu que te digo, é que nem a mim pertenço. Sou daqui, de além e de parte nenhuma. Vagueio por aí, nesse hiato chamado vida, que nem sempre o é. Por vezes, parece que tenho os pés assentes no chão, mas não passa de ilusão. Quando dou conta, já me transportei para outro mundo, onde vou amiúde, e por lá fico, sozinha, porque, afinal, não sou de ninguém.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
Ninguém é de ninguém ...
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