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Dialogar em silêncio


Pode parecer contraditório, mas, por vezes, o diálogo faz-se de silêncio. Nem sempre as palavras são a fórmula para o entendimento. Quantas vezes dizemos tanto sem nada dizer! O silêncio pode ser profundamente esclarecedor, mais até do que uma longa conversa. É importante saber entender o silêncio e, mais ainda, saber ler o silêncio dos outros, porque nem só de palavras se faz a comunicação. É preciosa a relação em que nos fazemos entender sem nada dizer, quando o outro alcança o nosso pensamento. Ao longo da vida, vamos cruzando com pessoas com quem criamos essa empatia, essa espécie de telepatia que ultrapassa a superficialidade das relações. Eventualmente não valorizamos a excepcionalidade dessas afinidades, quiçá porque ainda somos daqueles que achamos que “é a falar que a gente se entende”.

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O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas.   De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer

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  Vive agora num permanente estado de letargia. Tem consciência disso, mas vontade nenhuma de inverter a situação. É como se tivesse caminhado durante horas e não possua já forças para dar um só passo que seja. Cansaço. Será, afinal, esse o diagnóstico? Não o sabe, tampouco quer saber. Basta-lhe permanecer quieta, não colocar interrogações, ainda que num frémito de clarividência se questione. Estará ela a cair nas malhas dessa coisa a que chamam depressão? Não, seguramente que não, ainda que não consiga clarificar por que razão se mantém apática, indiferente ao que antes a trazia motivada. Sente-se como um balão que, de repente, se esvaziou. Está sem conteúdo, vazia. Pouco lhe importa se é noite ou se é dia. Não se quer obrigar a pensar, a reagir ou sequer a pedir ajuda. Só quer ficar, porque não vê vantagens em ir.