Chego com um nó na garganta e não consigo articular palavra. Atiro-me para o teu colo em busca de aconchego e encontro o calor do teu conforto. Não questionas o porquê do meu olhar perdido, que sustém a custo as lágrimas que hás-de ver rolar mal me tomas nos teus braços. Assaltam-te inúmeras perguntas, mas remetes-te ao silêncio até que o meu choro, até então contido, irrompe e quebra esse mudo momento. Apertas-me como se me resgatasses de um naufrágio e sinto-me emergir das profundezas que me sugam. Como que por magia sinto a dor desvanecer-se, aliviando o peso que carregava sobre os ombros. Há-de chegar a altura de falar, mas, por ora, preciso somente o teu abraço.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
Comentários
Enviar um comentário