Partiste em busca da serenidade que o teu espírito pedia. Foste embora com o coração destroçado na esperança de o recuperares e trazeres de novo à vida. Foi a mais dura prova que tiveste de enfrentar. Provaste o sabor amargo das lágrimas a cada despertar, porque cada novo dia te obriga a recomeçar. Ainda recolhes os cacos da tua vida partida e perguntas-te se algum dia a terás de volta. Porém, é o oposto que te move, é uma nova vida que procuras, porque não fazia mais sentido continuares refém do que é agora passado. Voltaste definitivamente essa página da tua existência e inventaste um novo viver, na certeza de não mais regressares ao que já foi. De algum modo, é como se tivesses morrido e voltado à vida. Reforçaste as tuas defesas e sentes-te capaz de enfrentar e superar as maiores provações. Afinal, quem venceu a morte vence qualquer obstáculo.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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