Partiste em busca da serenidade que o teu espírito pedia. Foste embora com o coração destroçado na esperança de o recuperares e trazeres de novo à vida. Foi a mais dura prova que tiveste de enfrentar. Provaste o sabor amargo das lágrimas a cada despertar, porque cada novo dia te obriga a recomeçar. Ainda recolhes os cacos da tua vida partida e perguntas-te se algum dia a terás de volta. Porém, é o oposto que te move, é uma nova vida que procuras, porque não fazia mais sentido continuares refém do que é agora passado. Voltaste definitivamente essa página da tua existência e inventaste um novo viver, na certeza de não mais regressares ao que já foi. De algum modo, é como se tivesses morrido e voltado à vida. Reforçaste as tuas defesas e sentes-te capaz de enfrentar e superar as maiores provações. Afinal, quem venceu a morte vence qualquer obstáculo.
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer
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