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Dissipam-se os dias



Dissipam-se os dias qual contas do rosário desfiadas numa reza corrida como quem tem pressa de ver atendida a sua prece. Rodam implacavelmente os ponteiros do relógio transformando o presente em passado depressa demais. Repetem-se os dias, as rotinas, os gestos, hoje como ontem, quase sempre iguais. Pergunta-se ao tempo porque foge pedindo-lhe que volte para trás.
Outrora longa, a estrada vai-se fazendo cada vez mais curta, sinal de que há cada vez menos caminho para percorrer. A todo o momento a viagem pode terminar, sem aviso prévio, e é sempre curta, por mais anos que tenham passado. Fica sempre algo por viver, por fazer, por dizer…
A intensidade das coisas não se mede pelas palavras que são ditas, mas pela forma como são sentidas e vividas. Como expressar por palavras a dor de perder alguém, o nascimento de um filho? Como explicar a sensação de voar sem tirar os pés do chão, tocar as nuvens sem lhes pôr a mão?
Dissipam-se os dias que hão-de dar lugar a outros, igualmente escassos e fugidios. Agarram-se os dias de sol e os de chuva, deixa-se o frio entranhar os ossos e o vento fustigar o rosto, cada vez mais marcado pelo tempo. Cozinha-se a esperança em lume brando sempre à espera do amanhã, deixando passar o hoje. Foge a gaivota do mar em dia de tempestade…

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Serei Amor

  Serei morada Porto de abrigo Cais onde ancoras o barco Âncora no mar revolto   Serei casa Regaço que acolhe Abraço que conforta Lar das memórias mais doces   Serei refúgio Lugar seguro Tempo sem tempo Abrigo nas tempestades   Serei certeza nas horas dúbias Luz na escuridão Esperança no desespero Alegria no descontentamento   Serei confidente Guardiã de todos os teus segredos Fiel depositária das tuas partilhas Confessionário dos teus pecados   Serei música Silêncio se o desejares Frenesim na quietude Calma na agitação   Serei o que quiseres que seja Sempre e quando o queiras Serei para ti o que queria fosses para mim Serei AMOR

Nem sempre...

Nem sempre razão e coração casam, mas fazem alianças. Nem sempre o amor cura, mas faz verdadeiros milagres. Nem sempre um abraço atenua a dor, mas imprime energia. Nem sempre falar resolve, mas alivia. Nem sempre são firmes os meus passos, mas regem-se pela verticalidade.  Nem sempre são assertivas as minhas palavras, mas refletem a verdade de cada momento.  Nem sempre sou o que esperam de mim, mas o que posso ser para os outros.  Nem sempre dou tudo o que poderia, mas o que sou capaz de oferecer.

Vida

Há dias maus e há dias muito maus. E depois há os outros, os verdadeiramente muito maus, a que, caso tivéssemos escolha, nos furtaríamos. São um verdadeiro murro no estômago, que nos atiram “borda fora”, que nos roubam o chão. Que fazem doer. Porém, há os dias bons e os dias muito bons. E depois há os dias excecionalmente esplêndidos. Verdadeiramente felizes. Energia positiva que alimenta o corpo e a alma. Que aquece o coração. Ambos, os dias bons e os dias maus, deixam marca, acentuada ou mais ténue. São memórias que carregamos, e que, a espaços, regressam, ainda que não as convoquemos. São memorandos, páginas de um livro que se vai avolumando de uma história cujo desfecho desconhecemos.