Como se
cumprisse um guião o cinzento acompanha-a. Desde sempre. Umas vezes mais persistente,
outras quase ausente, mas permanentemente presente. Nunca quis que a sua vida
fosse um rascunho traçado a lápis de carvão, aspirou sempre a uma tela
colorida, com traços bem marcados e definidos. Mas a vida é dada a caprichos e
obriga a novos recomeços constantemente. Não permite que as cores brilhem por demasiado
tempo e o pardacento volta a instalar-se sem deixar perceber por quanto tempo.
Enquanto a resiliência durar está prometida uma guerra de cores.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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