Não restam senão memórias, fragmentos de um passado comum. A vida escolheu separar-nos (ou será que fomos nós que a deixamos separar-nos?), colocando um ponto final na nossa história. Ficaram somente as recordações desse tempo que foi nosso e no qual partilhámos tantos momentos que eram, então, a razão do nosso viver. Trilhámos caminhos opostos sem que o que o sentimento que nutríamos um pelo outro fosse forte o suficiente para nos manter juntos. Desvaneceram-se as promessas e juras trocadas com a convicção de quem acredita ter o destino nas mãos. Permanece, ainda hoje, em mim uma sensação de vazio. Pergunto-me se és feliz e assalta-me uma quase angústia pensar que sim, não porque não te queira ver feliz, mas porque dói pensar que vives com outra a vida que planeámos para nós. Consola-me saber que fui, em tempos, a razão do teu viver. Conforta-me pensar que, apesar de ser agora passado, fui o presente da tua existência. Não me restam senão memórias.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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