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Memórias


Não restam senão memórias, fragmentos de um passado comum. A vida escolheu separar-nos (ou será que fomos nós que a deixamos separar-nos?), colocando um ponto final na nossa história. Ficaram somente as recordações desse tempo que foi nosso e no qual partilhámos tantos momentos que eram, então, a razão do nosso viver. Trilhámos caminhos opostos sem que o que o sentimento que nutríamos um pelo outro fosse forte o suficiente para nos manter juntos. Desvaneceram-se as promessas e juras trocadas com a convicção de quem acredita ter o destino nas mãos. Permanece, ainda hoje, em mim uma sensação de vazio. Pergunto-me se és feliz e assalta-me uma quase angústia pensar que sim, não porque não te queira ver feliz, mas porque dói pensar que vives com outra a vida que planeámos para nós. Consola-me saber que fui, em tempos, a razão do teu viver. Conforta-me pensar que, apesar de ser agora passado, fui o presente da tua existência. Não me restam senão memórias.

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Serei Amor

  Serei morada Porto de abrigo Cais onde ancoras o barco Âncora no mar revolto   Serei casa Regaço que acolhe Abraço que conforta Lar das memórias mais doces   Serei refúgio Lugar seguro Tempo sem tempo Abrigo nas tempestades   Serei certeza nas horas dúbias Luz na escuridão Esperança no desespero Alegria no descontentamento   Serei confidente Guardiã de todos os teus segredos Fiel depositária das tuas partilhas Confessionário dos teus pecados   Serei música Silêncio se o desejares Frenesim na quietude Calma na agitação   Serei o que quiseres que seja Sempre e quando o queiras Serei para ti o que queria fosses para mim Serei AMOR

Silêncio

Quando o silêncio é tão estrondosamente ruidoso retumba no peito e agita a mente. Não se ouve, contudo, grita. É avassalador. Assume o poder das mais duras palavras, é eco de uma multidão. É poderoso, porque domina, torna refém. Não permite refúgios nem evasões. É inteiro, porquanto preenche, toma todas as dimensões. Mil vezes os gritos. Tal silêncio não traz serenidade nem acalma. Mata.

Homem do mar

  Chega manhã bem cedo, numa rotina que cumpre religiosamente. Passos arrastados de quem carrega décadas de vida e as mazelas de uma infinidade de pequenos nadas e abalos de maior grandeza. Não estão à vista essas mazelas, fizeram morada por dentro, numa marca indelével que há de levar para a cova. Endireita as costas que teimam em curvar-se, fazendo-se ereto. Ergue os ombros e olha o mar, de frente, qual forcado enfrentando o touro na arena, em jeito de desafio. Conhece-o bem. Aprendeu a conhecê-lo antes sequer de se fazer homem. Sabe das suas manhas, dos seus caprichos, da sua imprevisibilidade. Respeita-o, porque o conhece. Sabe que pode ser traiçoeiro, ah como sabe. Não permite que as más memórias emerjam, antes as quer ocultas nesse negrume que habita em si, que lhe envolve o coração. Desconhece de que matéria é feito, tão pouco sabe que resiliência é a armadura de que se revestiu para sobreviver.