Admiram-lhe a garra e a força. A frontalidade, por vezes bruta, com que diz as coisas. O sorriso e o riso. Tudo nela é genuíno e verdadeiro, sem engodos ou artimanhas. Diz que a vida não é para ser levada a representar. É anti politicamente correcto e sempre se borrifou para as aparências. Sempre disse o que pensava, o que lhe valeu muitos dissabores e admiração noutras tantas vezes. Nunca deixou um abraço por dar e um amor por viver. É feliz, como só o podem ser as pessoas livres.
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer
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