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SobreViver


A data no calendário reaviva a lembrança do vendaval que devastou a sua vida e a reduziu a quase nada. Não foi totalmente inesperado, foi uma espera lenta que, ao invés de a preparar para o que haveria de vir, a tornou ainda mais frágil e fraca. As memórias desse período surgem envoltas numa espécie de névoa, tornando difusas as imagens desses dias em que viveu como se não fosse personagem da sua própria história, de tal modo estava entorpecida pela dor.
Os dias que haveriam de seguir-se foram o acordar do pesadelo, tendo de enfrentar a dura realidade. A casa vazia, as recordações em todo o lado, só serviam para tornar ainda mais dolorosos os dias que começavam e terminavam sempre da mesma forma: tristes, longos e frios. Pensou que não sobreviveria ao longo e doloroso calvário. Egoisticamente, chegou a desejar partir também. Foi duro e penoso o caminho. Porém, resistiu, sobreviveu e reaprendeu a viver. Não estava, como nunca esteve, sozinha.

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O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas.   De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer

Silêncio

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Letargia

  Vive agora num permanente estado de letargia. Tem consciência disso, mas vontade nenhuma de inverter a situação. É como se tivesse caminhado durante horas e não possua já forças para dar um só passo que seja. Cansaço. Será, afinal, esse o diagnóstico? Não o sabe, tampouco quer saber. Basta-lhe permanecer quieta, não colocar interrogações, ainda que num frémito de clarividência se questione. Estará ela a cair nas malhas dessa coisa a que chamam depressão? Não, seguramente que não, ainda que não consiga clarificar por que razão se mantém apática, indiferente ao que antes a trazia motivada. Sente-se como um balão que, de repente, se esvaziou. Está sem conteúdo, vazia. Pouco lhe importa se é noite ou se é dia. Não se quer obrigar a pensar, a reagir ou sequer a pedir ajuda. Só quer ficar, porque não vê vantagens em ir.