Mais tarde ou mais cedo há-de
falar, desembrulhando as palavras que mantém cárceres da sua cobardia. Não alcançou
ainda a patamar que lhe conferirá a segurança e a coragem para falar o que há
muito traz abafado no peito. Às vezes é como se estivesse junto ao precipício,
pronta a saltar, sem medos. Nessas alturas, chega até a achar ridículo tanto
receio de se expor e acha-se capaz dos feitos mais audazes, ainda que em causa
esteja só falar, dizer o que sente. São, porém, arrojos momentâneos, que se
diluem tão rápido como o sol em dia de chuva. Ensaia incontáveis vezes formas e
meios de o dizer, chega até a sentir a leveza espiritual que o desabafo, que
não o foi, proporciona, mas é também efémera a sensação. Um dia, diz para si
própria. Um dia não mais conseguirá calar as palavras que lhe queimam os lábios
e travar o ímpeto de confessar o amor que despertou no seu coração.
Quando o silêncio é tão estrondosamente ruidoso retumba no peito e agita a mente. Não se ouve, contudo, grita. É avassalador. Assume o poder das mais duras palavras, é eco de uma multidão. É poderoso, porque domina, torna refém. Não permite refúgios nem evasões. É inteiro, porquanto preenche, toma todas as dimensões. Mil vezes os gritos. Tal silêncio não traz serenidade nem acalma. Mata.
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