Saiu para rua, cumprida mais uma jornada de trabalho. Um arrepio percorreu-lhe o corpo ao enfrentar o frio de um fim de tarde de um Inverno que teima em durar. Sem pressa, tomou a direcção que há-de levá-la a casa. O corpo vencido pelo cansaço age com uma autómato, mecanicamente. Sabe que em casa nada mais a espera do que uma imensa, uma dura e pesada solidão. A dor da perda está ainda muito presente e parece tê-la enredado na sua teia, mantendo-a refém. Até quando? Pergunta repetida vezes sem conta, sem qualquer resposta. O sentimento de impotência domina-a por completo e abafa toda e qualquer tentativa para vir de novo à tona. Quer acreditar que depois da tempestade virá a bonança, mas ainda sente os efeitos do tsunami que arrasou a sua vida. Embora tenha deixado de fazer parte da sua vida, ele continua presente, sem o estar fisicamente. Por isso, a dor não amaina e a vida segue perdida, sem rumo.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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