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Vazio


É como se lhe tivessem arrancado o coração e não fosse já capaz de sentir nada. As vozes que ouve não as escuta já. As pessoas que se cruzam com ela não passam de vultos enevoados que não consegue ver. Quer gritar mas não tem voz, quer andar mas as pernas não obedecem. Sente apenas um vazio, um vazio sem fim. Questiona-se se estará ainda viva. O som da buzina de um carro que passa a grande velocidade tira-a do torpor em que estava mergulhada. De repente dá-se conta de que chove. Pingas grossas batem-lhe na cara como que percebendo a urgência de a trazer de volta à realidade. Um arrepio de frio percorre-lhe o corpo fazendo-a perceber que está viva. Ensaia uma tentativa para sair dali mas o corpo parece ter vontade própria e não se move. Que importa ir ou ficar? Para ir teria de ter um motivo, para ficar uma razão. Não tem nem uma coisa nem outra, só esse vazio, esse vazio que a agarra ao chão e não a deixar sair dali. A chuva continua a cair mas deixou de a sentir.

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Serei Amor

  Serei morada Porto de abrigo Cais onde ancoras o barco Âncora no mar revolto   Serei casa Regaço que acolhe Abraço que conforta Lar das memórias mais doces   Serei refúgio Lugar seguro Tempo sem tempo Abrigo nas tempestades   Serei certeza nas horas dúbias Luz na escuridão Esperança no desespero Alegria no descontentamento   Serei confidente Guardiã de todos os teus segredos Fiel depositária das tuas partilhas Confessionário dos teus pecados   Serei música Silêncio se o desejares Frenesim na quietude Calma na agitação   Serei o que quiseres que seja Sempre e quando o queiras Serei para ti o que queria fosses para mim Serei AMOR

Silêncio

Quando o silêncio é tão estrondosamente ruidoso retumba no peito e agita a mente. Não se ouve, contudo, grita. É avassalador. Assume o poder das mais duras palavras, é eco de uma multidão. É poderoso, porque domina, torna refém. Não permite refúgios nem evasões. É inteiro, porquanto preenche, toma todas as dimensões. Mil vezes os gritos. Tal silêncio não traz serenidade nem acalma. Mata.

Nem sempre...

Nem sempre razão e coração casam, mas fazem alianças. Nem sempre o amor cura, mas faz verdadeiros milagres. Nem sempre um abraço atenua a dor, mas imprime energia. Nem sempre falar resolve, mas alivia. Nem sempre são firmes os meus passos, mas regem-se pela verticalidade.  Nem sempre são assertivas as minhas palavras, mas refletem a verdade de cada momento.  Nem sempre sou o que esperam de mim, mas o que posso ser para os outros.  Nem sempre dou tudo o que poderia, mas o que sou capaz de oferecer.