Os dias decorreram vagarosos, as horas arrastando-se no relógio. Um dia atrás do outro e a saudade a crescer dentro do peito até apertar o coração, o fazer doer. Nunca tinha sequer suposto que o amor fosse isso, essa quase angústia que chega a ser dor. Estava longe de imaginar que amar era necessitar do outro para respirar, para estar vivo. Amo-te tanto, dizia sem falar, tantas vezes quantas as que esbarrava nele. E esbarrava tantas vezes nele. Sentia a ansiedade crescer ao ritmo da contagem decrescente para o reencontro. Perdeu a noção do tempo e do espaço quando, por fim, os seus olhos se cruzaram e se abandonou nos seus braços. O seu corpo parecia ter vontade própria, não era já dona de si. Amo-te tanto, ouviu-o dizer baixinho, a voz trémula de emoção, percebendo então que também ele estava irremediavelmente preso nas teias do amor.
Sempre a vi como o espelho da dor. Dois rudes golpes, a par de todas as outras dores que foi acumulando, mataram-na, ainda que se mantivesse viva. Não é preciso estar na pele do outro para perceber o seu sofrimento, contudo, é impossível medir a mágoa que sufoca o coração e enegrece a alma. Perder um filho, depois o outro. É a morte em vida, seguramente. Resiliência é um eufemismo para quem tem de prosseguir depois de tudo ter acabado. Sobreviver, porque viver é outra coisa.
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