Nada mais te resta do que recordações, lembranças que, à medida que o tempo vai passando, se vão desvanecendo mais e mais. O tempo tem esse apaziguador efeito de tornar cada vez menos presentes e dolorosas as memórias, esse fantasma que te acompanha os dias e ensombra as noites. Há muito que viraste a página dessa história que pensavas ser uma história de amor. Na ânsia de ser amado, cego de desejo, acreditaste que eras correspondido. Mera ilusão. Tremenda desilusão. Quem disse que os homens não sofrem por amor?
O toque do sino, anunciando as horas, fez-se ouvir, quebrando o silêncio e trazendo-o de volta à realidade. Não dera pelo tempo passar, absorto e perdido em pensamentos, arrastado para as memórias com que ia esbarrando a cada divisão da casa, que ia percorrendo com vagar. Como não lembrar daquela casa cheia de vida, repleta de gente, numa permanente azáfama, típica das famílias numerosas. De repente, era de novo um menino, perdido em tropelias com os irmãos, qual deles o mais travesso. A voz da mãe a chamar para a mesa, o cheirinho da comida de conforto, memórias tão vívidas que um arrepio lhe percorreu a espinha. Tateou a mesa da sala, onde tantas vezes partilharam refeições, risos e alegrias. A sala de jantar testemunha dos momentos mais felizes, mas também dos mais tristes, como as despedidas dos avós e, mais tarde, dos pais. Piscou os olhos, na ânsia de afastar as lágrimas que ameaçavam brotar. Invadiu-o a nostalgia, sentindo ecoar, num lamento, a canção de Pedro Abrunhosa… “quer
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